CUSTOS DE SHIBA, DESNECESSÁRIOS
Há alguns esportes e atividades sociais que são sabidamente onerosos, apenas por serem “elitistas”, pergunte a quem pratique equitação, regatas, tiro prático, por exemplo. Mas, criar cães de raça pura não deveria se enquadrar nesse efeito. O simples fato de procurar um animal que tenha origem e previsibilidade de comportamento e desenvolvimento, não justifica tal ônus.
Às vezes me surpreendo com a inventividade dos vendedores de pet shops em “empurrar” acessórios exóticos, tal como comedores em forma de labirinto, para “que o cão se alimente vagarosamente”, para sei lá que efeito. Em razão disso, fiz um Post relacionado com o enxoval adequado para quem vai receber um filhote em que, por incrível que pareça, o melhor é o mais simples e barato.
MERCADO EM CRESCIMENTO CONTÍNUO
O Mercado de Produtos para Cães no Brasil, na atualidade (2024-2025), é um setor robusto e em franco crescimento, consolidando-se como um dos maiores e mais promissores do mundo.
FATURAMENTO ELEVADO
O setor pet brasileiro faturou R$ 68,7 bilhões em 2023, com projeções para superar R$ 77 bilhões em 2024. O Brasil ocupa a segunda posição entre os maiores mercados pet do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos.
HUMANIZAÇÃO
A principal força motriz desse crescimento é a humanização dos pets. Os animais de estimação são cada vez mais considerados membros da família, o que leva os tutores a investir mais em sua saúde, bem-estar e qualidade de vida.
SEGMENTOS EM DESTAQUE
Pet Food (Alimentos): É o carro-chefe do mercado.
Pet Vet (Produtos Veterinários): Este segmento está em forte crescimento, com aumento de faturamento de 16% em 2023. Inclui medicamentos, suplementos e produtos para a saúde animal, indicando uma maior conscientização e investimento em cuidados veterinários.
Serviços Veterinários: Clínicas e hospitais veterinários representam uma fatia significativa do mercado, com cerca de 18% do faturamento total, e estão em expansão (15% de crescimento em 2023). A busca por exames avançados, terapias complementares (como acupuntura e fisioterapia) e atendimento personalizado tem se intensificado.
Pet Care (Produtos de Bem-Estar e Higiene): Também em crescimento.
Outros Serviços: Serviços como creches, hotéis de luxo para pets, passeadores e adestradores também estão ganhando espaço.
ALTA CARGA TRIBUTÁRIA
De modo geral, o setor pet no Brasil enfrenta uma das maiores cargas tributárias do mundo. Produtos como rações, acessórios e, por extensão, muitos medicamentos veterinários, são frequentemente classificados como itens supérfluos para fins de tributação.
Comparação Internacional: Enquanto em países desenvolvidos como Estados Unidos e Alemanha a carga tributária para o setor pet varia entre 6,6% e 22%, no Brasil, ela pode ultrapassar 50% do valor do produto, chegando a 54,2% em alguns casos (dados da Abinpet). Isso coloca o Brasil na liderança mundial em carga tributária no varejo pet.
Equiparação Indevida: A crítica é que itens essenciais para a saúde e bem-estar animal são tributados da mesma forma que produtos considerados de luxo ou até mesmo “prejudiciais”, como bebidas alcoólicas e cigarros, o que é visto como uma injustiça, dado o papel dos pets como membros da família.
EXPLOSÃO DE CUSTOS
Há uma escalada de preços, justificados ou não, em todos os segmentos.
Como já relatei em outro Post, uma consulta a um médico veterinário especialista em Neurologia, foi bem mais cara do que a de seu equivalente humano cobra para particulares.
Assim foi que passei a estudar o assunto, para tentar agir racionalmente, sem me deixar levar pela emoção e pelo marketing: hoje, compro um vermífugo veterinário com idêntica formulação do líder de mercado por valor cinco vezes menor. Mas o equivalente humano, além de bem menos oneroso, pode ser obtido de graça, no SUS.
PLANOS DE SAÚDE
Na minha opinião, de forma geral, os planos de saúde veterinários ainda não atingiram o nível de qualidade de um plano da UNIMED, por exemplo. Em sua maioria ainda disponibilizam atendimentos realizados por profissionais empregado e estagiários sem muitos méritos e seus credenciados.
Ainda insisto que os veterinários parceiros do ShibaShow sejam profissionais com um nome e conceito a zelar, que atendam pessoalmente seus clientes. Nunca é demais alertar para o fato de que o Shiba não é um cão comum, é primitivo, e poucos veterinários o conhecem.
Compareci com a Kanpai, nossa Grande Campeã e a melhor Shiba do Brasil em 2020, em uma renomada clinica veterinária de Porto Alegre, com indicação para o titular. Era uma consulta de rotina. Mas, lá chegando, ele estava em cirurgia e fui conduzido a uma colega.
Ela, com uma estagiária de suporte, iniciou o exame da Kanpai. Repentinamente, a estagiária apontou: “Olha esse olho, que é isso, que nervo é esse?” E apresentou a Kanpai para a Médica, que também se espantou.
Saí dali direto para a Clínica Liebernetch especializada em oftalmologia. O Dr. Carlos, imediatamente, me disse “Fala para a colega que ela faltou a essa aula de Anatomia. Esse nervo, nesta raça, é normal.”
Claro está que esse esclarecimento me custou duas consultas. A primeira, inútil, e a segunda especializada, desnecessária.
Kanpai, Grande Campeã e a melhor Shiba do Brasil em 2020, apresentada pelo seu handler Tito Flores e com o árbitro André Plentz
PRODUTOS MODERNOS
Aproveitando-se da humanização dos pets, a indústria tem investido em inovações e facilidades que justificam preços mais elevados.
No caso de otites, em que há muita recorrência, por exemplo, foi criado um medicamento de dose única, o NEPTRA, que é aplicado em consultório, e que custa algo como 40 dólares por orelha. O OTOLIN, antigo, e trabalhoso, custa 9 dólares para as duas.
A justificativa do preço mais elevado está em altos custos de Pesquisa e Desenvolvimento, Tecnologia e Inovação, proteção de patentes, menor volume de produção inicial, Marketing e Educação.
Exemplo clássico é o caso do fipronil, princípio ativo do Front Line, lançado há muitos anos, cuja patente venceu. Ele continua competente para o combate a pulgas e carrapatos.
MEDICAMENTOS GENÉRICOS
A Lei nº 12.689/2012, sancionada em julho de 2012, instituiu o sistema de produção de medicamentos genéricos de uso veterinário no país. Mas, ela ainda não produziu frutos.
MEDICAMENTOS EQUIVALENTES
No entanto, é possível encontrar produtos de diferentes laboratórios com o mesmo princípio ativo, que são considerados equivalentes aos medicamentos de referência, mesmo que não sejam rotulados explicitamente como “genéricos” da mesma forma que os medicamentos humanos. A prática de ter “similares” ou produtos com a mesma molécula original de um laboratório de referência é comum.
É o caso do exemplo do fipronil, anterior.
COMO IDENTIFICAR UM SIMILAR VETERINÁRIO
Princípio Ativo: O mais importante é verificar o princípio ativo na bula. Se o princípio ativo (ou a combinação de princípios ativos) for o mesmo do medicamento que você conhece e que seu veterinário prescreveu, é um bom indicativo.
Concentração e Forma Farmacêutica: Verifique se a concentração do princípio ativo e a forma (comprimido, injetável, suspensão, etc.) são as mesmas.
FARMÁCIAS DE MANIPULAÇÃO
É possível solicitar ao Médico Veterinários que prescreva uma fórmula para manipulação do remédio. Normalmente, os valores são mais reduzidos.
Antigamente, eu utilizava as farmácias de manipulação para obter medicamentos para otite, visto que os disponíveis no mercado eram apresentados em quantidade muito pequenas e com embalagens com aplicadores diminutos. Assim, eu requeria quantidades bem maiores e embalagem com aplicador mais adequado.
Hoje em dia, embora não sendo barato, o Easotic da Virbac atende aos dois motivos que me faziam utilizar a manipulação.
Além disso, ele é cômodo de aplicar, com um spray já dosado.
MEDICAMENTOS HOMEOPÁTICOS
A primeira vez em que vi a homeopatia veterinária foi com o Dr. Rheno Lorenzoni, há muito falecido, pai de nosso ministro Onyx. Ele era um profissional muito sério e que me fazia admirá-lo pela metodologia de anamnese em uma operação padrão sobre o animal imobilizado. Assim era que, ao submeter um cão a ele com uma determinada queixa, muitas vezes encontrávamos outros problemas, inesperados.
A maioria das revisões sistemáticas e metanálises de estudos científicos de alta qualidade conclui que não há evidências robustas que demonstrem que a homeopatia seja mais eficaz do que o placebo para qualquer condição de saúde.
O princípio da “diluição infinita”, onde muitas vezes não há sequer uma molécula da substância original no medicamento homeopático, é um dos pontos mais questionados pela ciência convencional.
Pesquisadores apontam que os efeitos observados com a homeopatia podem ser atribuídos ao efeito placebo, ao curso natural da doença, ou ao cuidado e atenção que o paciente recebe durante as consultas homeopáticas (que geralmente são mais longas e individualizadas).
MEDICAMENTOS HUMANOS
É bem verdade que, comparativamente, e por diversos motivos, os remédios humanos são menos onerosos do que os veterinários. Veterinários prescrevem, normalmente, medicamentos humanos para nossos pets.
Mas, o organismo canino processa substâncias de maneira diferente do nosso e alguns componentes comuns em remédios para pessoas podem ser tóxicos para os pets. É preciso ter muita cautela ao administrar qualquer medicamento humano a um cão, pois muitos deles podem ser perigosos e até fatais.
Mesmo os compatíveis, normalmente, são apresentados em concentrações bastante elevadas para pequenos animais. Concentrações mais próximas estão em medicamentos pediátricos. Assim, é da mais elevada importância a dosagem prescrita.
E, mais, boa parte dos remédios humanos perigosos podem ser obtidos sem receita médica, o que amplia o risco.
ALGUNS EXEMPLOS
Anti-inflamatórios
Ibuprofeno (Advil, Motrin): Pode causar úlceras gástricas, insuficiência renal aguda e problemas neurológicos graves.
Naproxeno (Aleve): Similar ao ibuprofeno, com risco de problemas gastrointestinais e renais.
Diclofenaco (Cataflan, Voltaren): Extremamente tóxico para cães, podendo causar sérios danos gastrointestinais e renais.
Ácido acetilsalicílico (Aspirina, AAS): Embora possa ser usado em doses muito baixas e sob orientação veterinária em alguns casos, a superdosagem é perigosa e pode causar problemas gastrointestinais, hemorragias e outros efeitos colaterais.
Analgésicos:
Paracetamol (Tylenol): Pode causar danos graves ao fígado e aos glóbulos vermelhos dos cães, levando à anemia e insuficiência hepática.
Dipirona (Novalgina, Anador): Pode ser tóxica em doses inadequadas, causando problemas gastrointestinais e renais.
Descongestionantes nasais:
Medicamentos que contêm pseudoefedrina ou fenilefrina podem causar aumento da frequência cardíaca, hipertensão, agitação e até convulsões em cães.
Antidepressivos:
Certos antidepressivos, como os inibidores seletivos de recaptação de serotonina, podem causar vômitos, letargia e, em casos mais graves, a síndrome da serotonina, com sintomas como agitação, aumento da temperatura corporal, frequência cardíaca e pressão arterial, desorientação, tremores e convulsões. Cipramil, Cipralex, Lexapro, Luvox, etc….
Medicamentos para diabetes:
Insulina e hipoglicemiantes orais para humanos podem causar uma queda perigosa no nível de açúcar no sangue (hipoglicemia) em cães, levando a fraqueza, convulsões e coma.
Vitaminas e suplementos:
Embora nem todas as vitaminas sejam tóxicas, algumas, como as que contêm altas doses de vitamina D, podem causar problemas sérios, como vômitos, perda de apetite, aumento da sede e da micção, e até insuficiência renal.
Outros medicamentos:
Benzocaína e tetracaína (presentes em algumas pomadas e sprays anestésicos tópicos) podem causar anemia: os glóbulos vermelhos do sangue são destruídos mais rapidamente do que o corpo consegue repô-los em cães. Piroxicam também é altamente tóxico para cães.
Não é necessário que o tutor resolva ministrar o remédio equivocadamente, basta que o deixe à disposição da curiosidade do canino, que poderá resolver experimentá-lo.
DOSAGEM DE MEDICAMENTOS HUMANOS
Além de as dosagens para medicamentos de pequenos animais serem muitas vezes menores do que para humanos, mais aproximadas até de dosagens pediátricas, ainda há a questão de que o fracionamento pode induzir a erro.
A maioria dos comprimidos não é projetada para ser partida. Se um comprimido não possui um sulco (aquela linha no meio) que indica que ele pode ser dividido, é um forte indício de que o fabricante não garante a uniformidade da dose nas metades. O sulco, quando presente, geralmente indica que o fabricante realizou testes de uniformidade de dose em comprimidos partidos e garante que cada metade contenha aproximadamente a metade da dose original.
Cortar um comprimido não sulcado, ou um comprimido com revestimento (entérico), de liberação prolongada, ou em cápsulas, pode comprometer não apenas a dose, mas também a integridade da formulação, alterando a absorção, a estabilidade ou até a segurança do medicamento. Cortar um comprimido que não foi feito para isso pode resultar em subdosagem (o animal não recebe a dose terapêutica completa, comprometendo o tratamento) ou superdosagem (o animal recebe mais do que o necessário, aumentando o risco de efeitos colaterais ou toxicidade).
EM CASO DE ACIDENTE
Não entre em pânico! Acalme-se para tomar decisões claras.
Entre em contato com o veterinário imediatamente: Informe qual medicamento foi ingerido, a quantidade aproximada, o peso do cão e os sintomas observados.
Não induza o vômito sem orientação profissional: Em alguns casos, pode piorar a situação.
Leve a embalagem do medicamento ao veterinário: Isso ajuda a identificar o princípio ativo e a dose.
Mantenha a calma do seu cão: Evite que ele se estresse ainda mais.
CONCLUSÃO
O mercado pet está se caracterizando por preços elevados, reflexo da valorização dos animais pelas famílias. Planos de saúde ainda não atingiram maturidade necessária para que sejam plenamente confiáveis, sendo atualmente divulgados pelas razões erradas, tais como a microchipagem gratuita e a castração.
Na falta da efetiva oferta de medicamentos genéricos veterinários, é possível, em muitos casos, recorrer a equivalentes e explorar versões menos sofisticadas e modernas, que satisfaçam a solução das queixas. Exemplo disso são vermífugos ou antiparasitários menos sofisticados, cujos princípios ativos já estão em domínio público.
Um bom exemplo é a otite, em que hoje é possível tratar com dose única, evitando falhas de tratamento que a fazem quase que “crônica”. Mas, antes disso, ainda é possível aviar uma receita fornecida pelo veterinário, mais barata, em maior volume e com embalagem mais prática. Claro está que se o animal é indisciplinado, difícil, agressivo, … mais seguro é pagar e resolver o problema de uma só vez.
Como em qualquer outro segmento, uma boa pesquisa de preços dos medicamentos vai apontar formulações mais baratas, que, não sendo contraindicadas pelo Veterinário, podem ser utilizadas. Como já relatei, uso um vermífugo de igual formulação do líder de mercado por um quinto do preço deste. Os princípios ativos são iguais, a composição também, e o laboratório com quem fiz contato me assegura que os sais são de igual qualidade. O diferencial está nos custos de publicidade.