Os Shibas são inteligentes?

O Shiba é, sem dúvida, a raça de cães japonesa mais icônica e popular. Os Shibas são cães pequenos ousados, animados, atentos e alertas. Ao contrário da maioria dos cães, os Shibas são um pouco mais reservados e se parecem com gatos.

Isso pode fazer você se perguntar: quão inteligentes esses cães realmente são?

A inteligência pode ser definida como a capacidade de um sistema de adaptar seu comportamento para atingir seus objetivos em uma variedade de ambientes.

Mesmo quando tratamos de seres humanos, a inteligência se demonstra um conceito discutível e complexo que tem sido objeto de estudo e debate em diversas disciplinas, incluindo psicologia, neurociência, inteligência artificial e filosofia. Não há uma definição única e universalmente aceita para inteligência, mas existem várias perspectivas e teorias que tentam abordar esse conceito. Modernamente, se aceita que há várias dimensões de inteligência, algumas pessoas possuindo algumas delas de forma mais enfática.

Mas, para efeito de nossas argumentações, vamos considerar apenas os tipos mais conhecidos:

Esta perspectiva vê a inteligência como a capacidade de aprender, raciocinar, resolver problemas, adaptar-se ao ambiente e compreender ideias complexas. Essa definição foca nas habilidades mentais e cognitivas de uma pessoa.

Mais antiga, ela costuma ser medida pelos testes de QI, através de um elenco de questões respondidas e que mensuram a “agilidade mental” do sujeito.

Proposta por Daniel Goleman, essa perspectiva destaca a importância das habilidades emocionais, como autoconsciência, autorregulação, empatia e habilidades sociais, na inteligência. Este é um conceito mais complexo e multifacetado que envolve a capacidade de reconhecer, compreender, gerenciar e usar as emoções de forma eficaz em si mesmo e nos outros. Medir a inteligência emocional é um desafio porque envolve uma combinação de habilidades cognitivas e emocionais. Vários métodos e avaliações foram desenvolvidos para medir a inteligência emocional, nenhum deles simples ou definitivo.

O que se costuma divulgar como índices e ranking de inteligência de raças de cães é o que decorre do teste de inteligência de Coren. Ora, esse teste, no meu entender, é muito mais frágil, no que se refere a cães, do que o índice de QI o é para humanos. Basicamente, o que nele é medido e a quantidade de repetições necessárias de um determinado comando, para que o cão o obedeça prontamente.

Então, o que é apurado é quanto a raça se adapta a ser um “cão de trabalho”, o quanto o cão é um “bom soldado”, obedecendo inclusive a estranhos, sempre da mesma forma.

Serve apenas para o que chamo de “cão de polícia”, ou seja, um cão que trabalha em conjunto com um tutor, que lhe fornece ordens para agir de determinada forma, previsível.

É um cão “engessado”. Um cão com elevado ranking de schutzhund é quase imprestável como cão de guarda, no pátio, em casa, por exemplo.

Há muito, quando eu criava Rottweilers, desisti de “adestrar” cães, mesmo os com pendores para guarda e trabalho. Descobri que a abordagem de apenas “educar” os filhotes, ou seja, reprimir alguns comportamentos indesejáveis, os mantinha muito mais eficientes, mesmo para a guarda, pois não os privava de seus instintos naturais. O adestramento, mesmo nas versões mais socialmente corretas e modernas “quebra” o instinto natural do cão e o faz dependente de uma “voz de comando” para agir conforme lhe foi ensinado.

Li, estudei e pratiquei muito o schutzhund, tendo cães aprovados nas provas “padronizadas” da CBKC. Nos fins de semana, por anos, reuníamos tutores com seus cães para fazer “provas de ataque” em locais da periferia de Porto Alegre. Neles e no dia a dia, vivenciei diversos fatos que me fazem permanecer com tal preferência pela educação dos filhotes, em desfavor do adestramento.

Com a experiência de quem já adestrou muitos cães, Dobermans, Rottweilers em treinamento de trabalho (schutzhund) acabei por concluir que esse tipo de condicionamento não amplia a competência do animal, salvo no caso de compor uma dupla com um humano. Um cão de trabalho é condicionado para trabalhar com um ser humano, onde cada um utilizará suas virtudes, que somadas levam à eficácia. E nessa dupla, o homem precisa saber como o cão se comportará em razão de suas “ordens”.

Mas, a previsibilidade de comportamento é obtida ao custo de restrição dos instintos do animal, que passa a agir sobre comando, de forma estrita. Não é um cão de guarda, como muitos pensam, pois que não saberá exatamente como agir quando estiver sozinho.

Algumas experiências práticas marcantes em meus mais de 30 anos de cinofilia, bem como a leitura de ampla literatura sobre o assunto, me fizeram concluir que um cão apenas educado, sem maiores condicionamentos, sempre será muito mais útil, quando necessário. Educado, ele vai parar quando você parar, mas vai sentar ou não, como ele achar melhor, e estará livre para agir, se ele julgar adequado. Adestrado, ele vai parar imediatamente quando você suspender a marcha e vai ficar em posição rígida, sentado.

A “leitura ambiental” de um cão é algo surpreendente, dada a amplitude absurda de seus sentidos.
embro-me bem de estar com um Rottweiler, que tem menor amplitude de sentidos do que o Shiba, em uma roda entre quinze ou dezesseis pessoas, aguardando para entrar em um ônibus que nos levaria para Foz do Iguaçu, para uma exposição de cães. O meu cão, Jimbo, estava muito calmo, sentado, escutando a conversa, quando se aproximou um desafeto meu, que, ao ver que o Jimbo participaria da exposição, soube que iria perder para ele.Imediatamente, o Jimbo se projetou para atacar o desafeto, ao que meu handler, ironicamente, disparou:

Transmimento de pensação!!!

Um cão, sem qualquer aparato adicional, é bem capaz de agir como um detetor de mentiras. Não sei o que Jimbo captou: um mínimo aumento de sudorese, minha ou do desafeto, um imperceptível apertar da guia, mas com certeza, foi um “sexto sentido”.

O adestramento vai “quebrar” a naturalidade, vai tornar seu cão um animal castrado de seus instintos naturais, um dependente de ordens alheias, suas ou não.

Uma raça oficial, padronizada pela FCI, entre as centenas já existentes é constituída por um conjunto de indivíduos com carga genética similar, que tem um propósito funcional.

Este propósito está refletido no Padrão da respectiva raça, pois que suas características físicas e de temperamento devem ser aquelas que mais contribuem para esse propósito funcional. Há cães destinados a companhia, a busca de caça na água, a salvamento na neve, a puxar trenós, etc. Cada um detém característica físicas e de temperamento adequadas ao seu mister.

Eles foram originalmente criados como cães de caça para capturar pássaros e pequenos animais, sua capacidade única de julgamento abrangente e movimentos ágeis são irresistíveis. Em ações, mostram o lado inteligente e a atitude carinhosa com as pessoas, o que faz parecer que ele tem consciência dos limites de sua própria força física, sendo muito elogiado não só no Japão, mas também no exterior.

No geral, são cães inteligentes que leem os sentimentos de seus donos e agem de acordo. Comparando cães machos e fêmeas, cães machos tendem a ser mais extrovertidos, enquanto as fêmeas tendem a ser mais gentis e sensíveis aos sentimentos de seus familiares.

Fonte: Nippo em 23/11/2023

Até agora, procuramos mostrar que os testes de inteligência canina atuais não medem com precisão a verdadeira inteligência dos cães, da mesma forma que os testes de inteligência tradicionais para humanos também não são plenamente úteis.

De acordo, com Stanley Coren, já citado, existem outros dois componentes de inteligência canina: a inteligência adaptativa e a instintiva. Ambas são, sem dúvida, mais importantes em geral do que a inteligência de obediência e trabalho.

A inteligência instintiva é, como visto, outro componente da avaliação da inteligência dos cães. Refere-se aos instintos da raça do cão, ou seja, para que o cão foi criado. Por exemplo, o Border Collie foi criado para pastorear gado. Vemos, assim, a precisão com que movimenta boiadas para o local determinado, recupera desgarrados, etc.

O Shiba foi criado para caçar pequenos e grandes animais. São excepcionalmente bons para espantar pássaros de arbustos. Foram usados como cães de caça nas regiões montanhosas do Japão por milhares de anos.

Instintos de caça são um tipo de inteligência canina. Ser capaz de se aproximar silenciosamente de pássaros e os espantar na direção dos caçadores requer um certo nível de inteligência. Os Shibas precisavam entender como se aproximar de uma presa sem serem detectados. Também precisavam saber como espantá-los em uma direção específica, geralmente a da armadilha ou dos caçadores. Isso requer um tipo especial de inteligência canina. Eles sabem fazer isso sem nenhum treinamento. Eles são exemplo de raça com alta inteligência instintiva de caça. Essa é uma área em que os Shibas realmente se destacam.

Na caça de animais de grande porte, como ursos e javalis, os Shibas que avançavam para os localizar e os manter confusos precisavam pensar por si próprios, esquivar, provocar, cercar, conforme necessário para não serem mortos. Isso eles fazem com maestria e, evidentemente, não podem aguardar uma “voz de comando” para agir. Surge daí o “desligamento” do Shiba, sua autonomia.

Sabemos bem como muitos cães de grande porte, como os Dogos Argentinos, por exemplo, sofrem acidentes, na caça ao javali, eventualmente. Os caçadores japoneses, os matagi, pobres que eram, não podiam se dar ao luxo de usar matilhas e não podiam perder cães. Seus cães tinham que sobreviver.

matagi e seu cão

Todos os meus Shibas são caçadores. Como moro em um sítio, eles costumam me trazer as presas.

Minha doce Kiko, que reside em minha casa, enfrenta animais perigosos que adentram o seu território com naturalidade e pleno domínio: porcos espinho, serpentes, gambás, etc. Enquanto isso, cães de outras raças frequentam as clínicas veterinárias para extrair centenas de espinhos ou receber soros antiofídicos.

Os demais Shibas, cada um, têm as suas preferências de caça, embora enfrentem todas as oportunidades que se apresentem, apesar delas.

Testes de inteligência, sejam caninos, sejam humanos, são imperfeitos no sentido de que existem muitas dimensões a mensurar e não se consegue abranger a todas, de forma sintética. Pessoas como Kim Peek e Derek Paravicin são gênios de classe mundial em algum segmento, mas enfrentam dificuldades para realizar tarefas que muitas crianças dominam. Cada teste pode responder a algumas perguntas entre inúmeras questões sobre a inteligência de um ser. O sujeito pode ser brilhante em uma área e terrível em outras. Ou bom em muitas áreas e brilhante em nenhuma. Para entender a inteligência, é preciso considerar que ela é impossível de ser resumida, podendo apenas fornecer estimativas para questões específicas.

Nesse meu intenso convívio com os Shibas, mesmo sem graduar, posso dizer que são insuperáveis nas atividades a que se destinam, ao mesmo tempo em que não podem ser vencidos na transmissão de amor, felicidade e alegria a sua família. Shiba é tudo de bom!

A inteligência de um cão é equivalente à de uma criança de três anos e, sim, com o intelecto bem desenvolvido e estimulado, um cão pode aprender mais de 100 palavras. Um cão pode aprender instruções complexas, como: ladre três vezes, pegue a bola azul, qual é a raquete?; um cão estimulado pode lembrar mais de cinquenta ordens diferentes

do livro, Como aumentar a inteligência de um Shiba inu, de Marcos Mendoza

São mensurados três tipos de inteligência:

Adaptativa
permite que se adapte a situações desconhecidas, e pode ser estimulada ensinando-lhe coisas novas e expondo-o a circunstâncias às quais ele não está acostumado, sempre de forma positiva e calma;

Instintiva
é a que utiliza ao seguir seus instintos: comer quando estiver com fome, dormir quando estiver cansado, fazer suas necessidades. Esse tipo de inteligência deve ser orientada a ensiná-lo como ser “educado” ,a evitar a voracidade e melhorar o autocontrole;

Funcional
tem muito a ver com a raça e a predisposição para realizar certas tarefas. O Shiba sempre terá mais facilidade de aprender quaisquer coisas, se for direcionado a propósitos de caça ou similares.

Sem dúvida o Shiba é maior do que a soma de suas partes. Na inteligência cativante que possuem eles são imbatíveis em conquistar e fornecer amor. Todos nós conhecemos pessoas de elevadíssimo QI e, talvez por isso mesmo, extremamente chatas.

Talvez por isso o deus dos cães não colocou o Shiba, Tesouro do Japão, na lista dos 10 mais inteligentes, apenas o fez o mais amoroso e o mais amado.

O Shiba, tenho certeza, é o cão de mais ampla Inteligência Emocional, no trato com os Humanos.

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