CEGUEIRA DE CANIL
Profissionalmente, me especializei em Qualidade Total na Empresa. Uma das técnicas inerentes a tal disciplina é o benchmark, ou seja, a comparação com parâmetros obtidos por outros empresários, para avaliação de seus próprios produtos ou serviços.
Claro está que é preciso constituir métricas, os mencionados parâmetros, que sejam indicativas de que o produto ou serviço tem qualidade e que permitam acompanhar sua evolução.
Até mesmo no futebol, uma atividade de lazer, hoje, os técnicos compilam os mais diversos indicativos para qualificar o desempenho de um time, seja em termos absolutos, seja em relação ao seus rivais. Por que não fazer o mesmo na criação de cães?
DEFINIÇÃO DE CEGUEIRA DE CANIL
A “cegueira de canil” na cinofilia é um termo usado para descrever a incapacidade de alguns criadores de cães de reconhecerem ou admitirem problemas, falhas ou pontos fracos em seus próprios cães, naqueles que eles criam. É como se eles desenvolvessem uma “cegueira” para os defeitos, impulsionados pelo ego, paixão excessiva pela raça ou mesmo por interesses financeiros.
Essa “cegueira” pode se manifestar de diversas formas:
Negação de problemas genéticos: Ignorar ou minimizar a existência de doenças hereditárias, problemas de saúde, temperamento ou conformação (estrutura física) que são prevalentes na raça ou em suas linhagens.
Falta de autocrítica: Dificuldade em aceitar críticas construtivas de outros cinófilos, juízes ou veterinários sobre seus cães ou sobre a direção da criação da raça.
Romantismo excessivo: Apego emocional tão grande à raça ou aos seus próprios cães que impede uma avaliação objetiva e crítica.
Priorização de características estéticas: Focar em características estéticas em detrimento da saúde, temperamento ou funcionalidade do cão.
Manutenção de padrões desatualizados: Insistir em padrões de raça que já não são adequados para a saúde e bem-estar dos cães.
SUPERAÇÃO DA CEGUEIRA DE CANIL
A “cegueira de canil” é o inimigo silencioso que assombra até os mais dedicados criadores e tutores. Ela surge da familiaridade excessiva, tornando-nos incapazes de enxergar falhas ou problemas que se tornam óbvios para um olhar externo. É como se, de tanto conviver, nos tornássemos “cegos” aos detalhes cruciais, comprometendo o bem-estar e o futuro de nossos animais.
Reconhecer essa armadilha é o primeiro passo para superá-la. Existe um caminho para resgatar a clareza e a objetividade, garantindo que nenhum detalhe escape ao seu cuidado:
Busque um Olhar de Fora: convide um criador experiente, um veterinário ou até mesmo um amigo com bom senso para uma visita. Um olhar novo e imparcial pode identificar rapidamente o que você deixou de notar. Esteja aberto às críticas construtivas; elas são um presente valioso.
Participe de exposições: submeta seus cães a avaliação de árbitros cinófilos, que os vão classificar em termos de qualidade e em relação aos concorrentes.
Invista em Conhecimento: participe de workshops, seminários e grupos de estudo, quando houver. Procure conquistar um tutor, mais experiente, que possa orientá-lo sobre a criação Trocar experiências com outros profissionais e se manter atualizado sobre as melhores práticas da área aguça sua percepção e evita a estagnação.
Crie protocolos em suas práticas de criação. Estude o que criadores bem sucedidos praticam, mesmo em outras raças, e avalie conveniência de os imitar seus procedimentos e rotinas.
CONCLUSÃO
A “cegueira de canil” representa um dos maiores desafios psicológicos para qualquer criador sério na cinofilia. Não se trata de uma falha de caráter, mas de uma armadilha cognitiva que, se não for reconhecida e abordada, pode ter consequências devastadoras para a qualidade.
A incapacidade de avaliar objetivamente o próprio plantel, a negação de falhas e a ilusão de perfeição são sintomas de uma condição que se autoalimenta, perpetuando deficiências ao longo das gerações.
A superação desta condição exige uma abordagem multifacetada. A humildade para procurar avaliação externa, o compromisso com a educação contínua, a prática rigorosa da autocrítica e a capacidade de gerir o apego emocional.
Um criador verdadeiramente bem-sucedido não é aquele que produz um “cão perfeito”, mas sim aquele que reconhece a inevitabilidade das imperfeições e se dedica incansavelmente à melhoria contínua.