Doenças Genéticas do Shiba
Dentre as doenças destacadas neste post, estamos mais familiarizados com a displasia coxofemural e a luxação de patela (rótula), pois, na condição de Diretor do RottTche, clube especializado da raça Rottweiller, participamos junto com equipe de radiologia da Faculdade de Veterinária da UFRGS, na década de 70, dos primórdios da campanha de contenção da displasia nessa raça, acompanhando todos os procedimentos correlacionados e obtendo orientação dos professores.
No que respeita à oftalmologia, tivemos o apoio e colaboração, inclusive com materials inéditos e raros: OCULAR DESORDERS presumed to be inherited in purebreed dogs, do GENETICS COMMITTEE OF THE AMERICAN COLLEGE OF VETERINARY OPHTHALMOLOGISTS. da Clinica Liebernetch, especializada em oftalmologia e com insuperável base de conhecimento a nível internacional, que está em Porto Alegre RS. Nosso muito obrigado aos Drs. Carlos, Frederico e à Marcia, pelo apoio.
O SHIBA É, EM PRINCÍPIO, SAUDÁVEL
O Shiba, possivelmente por ser uma raça primitiva, cujo DNA é o mais próximo do Lobo Cinzento, origem dos cães, não se encontra entre as raças com doenças genéticas relevantes ou abundantes.
O site de Testes de Doenças Hereditárias (DNA) em Cães e Gatos da WSAVA (World Small Animal Veterinary Association) é uma excelente fonte para testes de DNA, listas de raças suscetíveis e laboratórios de teste.
Seguradoras e bancos de dados hospitalares centralizados monitoram as apresentações de doenças mais frequentes, o que ajuda os veterinários a entenderem as doenças genéticas mais comuns. As condições mais frequentes, a seguir relatadas, são complexamente herdadas e envolvem combinações de múltiplos genes e fatores ambientais. Doenças genéticas devem ser reconhecidas na prática porque devem ser tratadas como doenças crônicas, não episódicas.
Em estudo sobre as 10 doenças hereditárias mais comuns em cães, contido no Relatório do Congresso da Associação Veterinária Mundial de Pequenos Animais, 2017, publicado pelo Doutor Jerold S. Bell, vemos que as moléstias geneticamente transmissíveis mais comuns em cães são:
# | DOENÇA | Shiba |
---|---|---|
1 | Doença Cutânea Alérgica | Não |
2 | Displasia Coxofemural Canina | Rara |
3 | Síndrome da Obstrução das Vias Aérea Braquicefálicas | Não |
4 | Doença da Válvula Mitral Mixomatosa | Não |
5 | Ruptura do Ligamento Cruzado Cranial | Não |
6 | Luxação Patelar | Rara |
7 | Cânceres Hereditários | Não |
8 | Criptorquidia | Não |
9 | Hipotireoidismo | Não |
10 | Doenças Oftálmicas Hereditárias | Rara |
A maioria delas não se aplica ao Shiba, como podem ver na tabela acima. As que incidem em nossa raça, como vemos são de frequência insignificante.
Doenças Genéticas do Shiba
Ainda que o Shiba compareça em três delas, a segunda, a sexta e a décima, na condição de “raro”, ou seja menos de 1% de prevalência, vamos comentar os três casos:
Displasia Coxofemural Canina
A displasia coxofemoral, é o distúrbio musculoesquelético herdado mais comum em cães de grande porte. Dos que são submetidos à Orthopedic Foundation for Animals (www.ofa.org), 14,6% são classificados como displásicos. Esta é uma estimativa baixa pois muito poucos cães realizam tais exames. Há raças, como o Pastor Alemão e o Rottweiler em que há uma política de controle entre os criadores, mas cães pequenos com displasia coxofemoral geralmente não mostram a dor e desconforto observados em cães maiores e por isso não são sequer examinados.
Ao exame físico, os animais podem ser normais, ou realmente serem displásicos apresentando dor no quadril, manqueira ou claudicação que piora após o exercício, histórico de diminuição da atividade física: evitam saltar, correr, subir ou descer escadas, sofás e camas, calcanhares virados “para dentro”, atrofia da musculatura da coxa, aumento da musculatura dos ombros, entre outros. O exame simples de Raio-X das articulações coxofemorais é esclarecedor nos animais com suspeita de displasia, que será classificada em diferentes graus de gravidade. Então, ela poderá ser um pequeno desajuste entre a cabeça do fêmur e o acetábulo, no Grau 1, até uma luxação total em que o fêmur fica solto, mantido apenas pela musculatura, no Grau 4.
Empiricamente, em nossos grupos, com centenas de Shibas, desconhecemos qualquer um com displasia coxofemural evidente, mais comum em raças grandes.
Luxação Patelar
A patela, ou rótula, é o pequeno osso que fica na frente do joelho e faz a “conexão” da musculatura anterior da coxa com o tendão patelar.
Luxação de patela acontece quando o osso desliza para fora do lugar, seja parcialmente ou por completo, levando à dor e perda de função. Mesmo que a patela volte ao lugar sozinha, ainda será necessário tratamento para o alívio dos sintomas dolorosos e uma avaliação precisa do quadro.
A luxação patelar é um distúrbio herdado de forma complexa. É mais comum em raças de estatura pequena; no entanto, várias raças maiores também têm uma alta incidência do distúrbio. O Shiba não está entre as dez raças mais acometidas. A luxação da patela pode ser subclínica ou causar dor, instabilidade e alterações artríticas, dependendo da gravidade:
O controle do peso é um fator importante na diminuição da morbidade. Cães afetados geralmente progridem do Grau 1 para o Grau 4 ao longo do tempo.
O principal meio de diagnóstico da luxação de patela em cães é a palpação, realizada pelo médico veterinário. É importante que esse diagnóstico clínico seja acompanhado por exames de raio-X para observar com precisão os níveis de degeneração, já citados.
A única maneira de solução do problema é a cirúrgica, na qual a patela é recolocada em seu devido lugar, permitindo que o animal recupere seu apoio e mobilidade. Em dois meses após a cirurgia, o animal já está recuperado e liberado para voltar às suas atividades normais. Entretanto, existem alguns cães que para se recuperarem totalmente precisam de fisioterapia.
Em nossa observação empírica, no plantel de Porto Alegre, acompanhamos casos de luxação de patela que careceram de cirurgia, normalmente associados a linhagens de menor qualidade. Uma cirurgia corretiva custa, em média, 500 dólares, aqui nossa cidade.
Glaucoma Primário de Ângulo Estreito
Dentre as mais frequentes doenças oculares transmitidas geneticamente para os cães, relatadas pela World Small Animal Veterinary Association, o Shiba só é mencionado no glaucoma primário de ângulo estreito e, como nas demais aqui citadas, com incidência rara.
Essa é uma condição ocular séria e dolorosa que ocorre quando há um bloqueio ou estreitamento do ângulo da drenagem do fluido dentro do olho. Este tipo de glaucoma é denominado “primário” porque não é causado por outras condições oculares subjacentes, como trauma ou inflamação.
Normalmente, o fluido produzido dentro do olho (humor aquoso) deve drenar adequadamente através de um sistema que está localizado na junção entre a córnea e a íris. Quando o ângulo da drenagem é estreito, o fluido não pode drenar adequadamente, resultando em um aumento da pressão dentro do olho.
O aumento da pressão intraocular pode causar danos irreversíveis ao nervo óptico e outros tecidos oculares, levando à cegueira se não for tratado. Os sinais de glaucoma primário de ângulo estreito em cães podem incluir olhos vermelhos, lacrimejamento excessivo, pupilas dilatadas, sensibilidade à luz, visão embaçada, comportamento de esfregar os olhos e até mesmo mudanças na aparência da córnea, como inchaço.
O diagnóstico de glaucoma geralmente envolve medidas da pressão intraocular, exames oftalmológicos detalhados e possivelmente exames de imagem, como a ultrassonografia ocular. O tratamento do glaucoma em cães pode incluir medicação para reduzir a produção de fluido intraocular, medicamentos para melhorar o fluxo de drenagem ou cirurgia para criar uma via de drenagem.
É importante notar que o glaucoma é uma condição crônica que requer gerenciamento contínuo e monitoramento regular pelo veterinário. Infelizmente, mesmo com tratamento adequado, a perda da visão pode ocorrer em alguns casos. Por isso, é fundamental detectar e tratar o glaucoma o mais rápido possível para maximizar as chances de preservar a visão do seu cão.
OUTRAS DESORDENS OCULARES HEREDITÁRIAS DO SHIBA
A publicação do Comitê de Genética do Colégio Americano de Oftalmogolia Veterinaria, que nos foi gentilmente cedido pela Clinica Liebernecht, com base em exames em 3.857 Shibas, ao longo de três anos recentes, apresenta resultados diferentes dos contidos no Relatório do Congresso da Associação Veterinária Mundial de Pequenos Animais, possivelmente, por limitar os estudos aos EUA.
Todas as sete desordens oculares registradas que acometem os Shibas nesse estudo estudo são de herança “não definida”. Além disso, a incidência de glaucoma no Shiba, como relatado acima, é de 0,2%, ou seja, apenas um caso em mais de 3700 animais. Quatro variedades de desordens nas palpebras, também constantes dessa publicação são igualmente infrequentes, exceto cílios anormalmente localizados na margem da pálpebra, o que pode causar irritação ocular, que atinge 2%, com 12 casos.
Conclusão
Nos estudos que realizamos, encontramos muitas doenças associadas geneticamente a quase todas as raças mais conhecidas. No Practical Genetics for Dog Breeders, de Malcom B. Willis, dentre 128 defeitos geneticamente herdados por cães de diferentes raças, o Shiba apenas é citado em uma delas a “Coluna Curta”: um excessivo encurtamento da coluna, de herdabilidade insignificante, que acomete o Shiba, o Greyhound e o Boxer e é dita “muito rara”, ou seja, um ou dois casos por 1.000 animais, ou menos do que isso. Essa doença é autossomica recessiva.
A National Shiba Club of America, em estudo sobre doenças do Shiba, conclui que a doença mais frequênte do Shiba, que não tem origem genética, é a Dermatite alérgica à picada de pulga (DAPP), que somente vai acometer aqueles cães que não recebam o devido cuidado.
Portanto, entre tantos méritos de nosso pequenos samurais, ainda descobrimos que em sua evolução milenar foi superando fragilidades e defeitos, tornando-se um cão saudável por natureza.
O melhor remédio para o quem desejar possuir um Shiba é lidar apenas com criadores reconhecidos e de boa reputação que verdadeiramente se preocupem em criar Shibas corretos e de linhagens destacadas, já escoimadas de fragilidades ou defeitos.