Silvia Esposito – Canil Sun’You Kensha
Criadora de Shibas responsável por um dos canis de maior renome no mundo, que atualmente se encontra entre a elite dos criadores tanto de Shibas como de Akitas fora do Japão, responde a algumas perguntas nossas..
Conte algo do início com a criação. Teu pai criou, entre outros cães, Shibas e Akitas, e suponho que isso influenciou em tua decisão, mas em que momento decidiste que querias criar realmente essas duas raças?
Meu pai criou cães por mais de quarenta anos, assim que em toda a minha vida estive rodeada por eles. Entretanto, entre as raças que me acompanharam em minha infância, sem dúvida, o Akita japonês e o Shiba são as que mais me fascinaram, e por isso decidi registrar meu próprio nome de canil e me concentrar nessas duas raças japonesas. Ele me ensionou muito do que sei, mas desde o início tive claro que meus objetivos seriam muito diferentes do que os que à época se viam no mundo dos cães na Espanha. Arrisquei ao máximo e agora vejo que foi uma decisão acertada.
Tiveste um mentor que te ajudou a penetarar nesse novo domínio?
Meu mentor no Shiba é Yuuichi Tomimoto, proprietário dos afixos Ryuukyuu Uruma e Gold Typhoon; é um dos grandes criadores da raça no Japão.
Me atrevo a dizer que é o único criador japonês que conseguiu que seus cães triunfassem dentro e fora do Japão, tanto em exposições da NIPPO como em exposições da FCI (como é o Japan Kennel Club) e no resto do mundo. Seus Shibas conseguiram êxito em ganhar o Best in Show ou Best of Breed, na NIPPO, mundiais européias, Cruft, Westminster, e na Exposição Internacional Asiatica. Para mim é uma honra possuir alguns de seus cães e todo um privilégio receber sua MASTER CLASS cada vez que nos vemos. Admiro vários criadores japoneses de Akita, e cada uma de minhas viagens ao Japãon se converte em grandes seminários didáticos. Sempre regresso do Japão com tants ensinamentos em minha mala que às vezes chego à conclusão que “só sei que nada sei”.
Mas, o certo é que não poderia dizer apenas um nome como meu mentor. Quero criar Akitas que se movam com elegância e força, que sejam capazes de ganhar grupos e Best in Show, me sinto privilegiada de receber o carinho e os ensinamentos de alguns criadores da AKIHO de grande relevância; alguns dos quais considero parte de minha família.
Como escolheste o nome do teu canil?
Tinha claro que queria um afixo com significado especial e correto. Comparei vários, mas ao final, fiquei com Shun’You Kensha: “o canil do sol de primavera”. Posteriormente registrei meu afixo Sachinoshunyousou na NIPPO e AKIHO com a ajuda da minha amiga Chieko Sugiyama já que há alguns anos não admitem mais afixos que contenham a palavra “kensha” (canil). Muitos de meus cães têm pedigrees NIPPO ou AKIHO além do da FCI.
Quais são os princípios que segues em tua criação? Por exemplo, o que te faz selecionar um filhote para manter o futuro de tua linhagem e o que te faz escolher um cão adulto para adicioná-lo ao teu canil?
Até o momento, tenho estado a introduzir tipicidade e expressão, que considero eram as duas grandes carências de ambas as raças na Europa e especialmente na Espanha, e é por isso que eu importei mais de cinquenta exemplares do Japão nos últimos oito anos, fixando, assim, a expressão e o tipo.
Atualmente, estou trabalhando na estrutura e movimentação, que, do meu ponto de vista, é a maior carência que têm ambas as raças japonesas.
Até o momento, tenho estado a introduzir tipicidade e expressão, que considero eram as duas grandes carências de ambas as raças na Europa e especialmente na Espanha, e é por isso que eu importei mais de cinquenta exemplares do Japão nos últimos oito anos, fixando, assim, a expressão e o tipo.
Atualmente, estou trabalhando na estrutura e movimentação, que, do meu ponto de vista, é a maior carência que têm ambas as raças japonesas.
Como são teu Shiba e teu Akita ideais?
Ideal? Um sonho, talvez… Um cão sadio com caráter equilibrado, estrutura correta, movimentação correta e uma cabeça bonita… Talvez sejam impossível? Não sei, mas por isso luto dia a dia.
Que dificuldades encontraste ao longo de tua carreira como criadora? O que destacas como o melhor do teu trabalho?
O fato de serem duas raças japonesas é em si uma grande dificuldade. Sempre disse que, na minha vida tenho tido a sorte de estar no lugar e momentos adequados, e ter conhecido gente por quem estarei eternamente agradecida. Uma dessas pessoas é Chieko Sugiyama, que desde o primeiro momento me estendeu a mão e nunca a soltou. Ela sempre me ajuda nos contatos com os japoneses, me tem acompanhado na maioria das minhas viagens ao Japão e, como sabes, tornou possível que um juiz da NIPPO venha julgar na Espanha.
Também tive muita sorte com o Sr. Izumi Awashima que me apresentou a vários criadores de Akita e Shiba em uma de minhas primeiras viagens ao Japão: ele era relações públicas do Japan Kennel Club e sempre me tratou com muito carinho ou, ao menos, eu assim sentia; foi um grande homem que lamentavelmente faleceio há alguns anos e que sempre estará em meu coração.
Existem dificuldades econômicas, já que viajar ao país de origem de ambas as raças, visitar criadouros, comprar e importar exemplares… tem um custo muito elevado e a isso se une a forma de criar diferente e a ausência de garantias da maior parte dos criadores japoneses, torna mais complicado ainda.
Como comentava no início da entrevista, creio que sempre arrisquei ao máximo, mas sem dúvida valeu a pena.
Crês que atualmente há problemas preocupantes na criação de Shibas e Akitas?
Creio que há bastantes problemas atualmente, mas são de âmbitos muito diferentes.
Por um lado, ambas as raças padecem de problemas de saude, especialmente o Akita. Não são raças fáceis de criar e o Akita é considerado na Espanha um cão potencialmente perigoso. Tudo isso faz com que o trabalho de um bom criador deva ser ainda mais exaustivo na seleção das linhas e do caráter.
Por outro lado, na atualidade ambas as raças ganharam popularidade devido ao filme do Hachiko e surgiu um grupo bastante grande de pessoas que começou a criar ambas as raças com muita inexperiência, com falta de formação e alguns movidos exclusivamente pela oportunidade de negócios. Em alguns casos essas pessoas estão jogando por terra o trabalho de muitos anos de seleção. Há dias em que me pergunto se vale a pena…
Que método de socialização e estimulação precoce empregas em teus filhotes?
Meus métodos de socialização e educação são tradicionais. Por que mudar algo que vem funcionando toda uma vida? Nas nosssas instalações os cães contam com ar condicionado e música ambiente, modernidades que oferecem bem estar, mas não há nada como o carinho desde bem pequenos e o contato humano para obter o melhor deles. Os abraço, os mimo e converso muito com eles… creio que depois desta, haverá quem me trate por louca, mas essa sou eu.
Como comentaste tuas visitas ao Japão são bastante frequentes. Poderias dizer-nos que diferenças são mais destacadas em relação à Europa?
Tudo lá é muito diferente, desde a relação que têm os criadores japoneses com seus cães até as exposições e os juízes dos clubes de raças.
Algo negativo é a falta de preocupação pela saúde e enfermidades da maioria dos criadores. Pode-se destacar a beleza natural e dignidade da maior parte dos Akitas e Shibas que vejo no Japão.
Qual sua opinião sobre a falta de reconhecimento pela FCI do Shiba branco?
Parece que se cingem ao Padrão da raça e lógico seu modo de atuar. O padrão da FCI se baseou no do Japan Kennel Club ainda que a NIPPO (clube de preservação do Shiba inu no Japão) admita a criação de Shiba brancos, inclusive para participar de exposições, ainda que nunca seriam classificados como “excelente” em pista.
Quais as diferenças de caráter de ambas as raças? E vou pedir que te molhes: por qual sentes mais debilidae dos dois?
Me parecen muito similares. Talvez o Shiba tenha um nível de atividade superior, por exemplo, se pode exigir mais exercício do que para o Akita. As diferenças de carater noto mais na fase de filhotes, quando o Shiba é pura alegria e vitalidade, enquanto que o Akita, desde muito jovem mostra muita dignidade e tranquilidade.
Quandos maduros, ambos são muito similares. Os dois são muito territoriais com outros cães, mas maravilhosos companheiros da família. Sinto amor pelo Akita apesar dos pesares, mas minha vida comparto com minha pequena Shiba Momo. Neste momento não poderia imaginar minha vida sem uma das duas raças.
Tiveste a oportunidade de conseguir grandes exemplares para agregar aos teus planos de criação; podias nos dizer se em alguma ocasião ficaste com vontade de conseguir um determinado cão?
Sempre vês cães que poderiam bem complementar os teus, especialmente quando assistes a exposições no Japão, mas mais recentemente não posso evitar de pensar no caso de uma jovem Shiba que me tem obcecado e sonho em ter, se chama Konohana No Kayahime Go Ryuukiuu Uruma, de propriedade de Megumi Tamomito, outra grande profissional da criação do Shiba. Essa jovem Shiba tem uma grande dignidade e movimentação incrível entre outras magníficas qualidades. Talvez por isso seja a Shiba número um do Japão neste momento, ganhando BIS no JKC e na NIPPO.
Há algum momento que tenha ficado gravado em tua memória dentro do mundo de exposições e pistas?
O campeonato da Europa que ocorreu em Barcelona dez anos atrás onde compareci com dois de minhas primeiras ninhadas de Akitas, quando eu era uma desconhecida a nível mundial. Como segue sendo normal hoje em dia se dizia que iria ganhar uma criadora italiana. Nunca fiz caso desse tipo de rumores e compareço às exposições mais relevantes a nível mundial, julgue quem julgue. Aquele dia foi histórico para mim: julgava o Sr. Guido Vandoni da Itália, e meus Akitas ganharam melhor filhote macho, melhor filhote fêmea, melhor jovem macho, e minha filha Asayake Go Shun’you Kensha melhor jovem fêmea e melhor da raça absoluta.
Por outro lado, quando Momo ganhou o melhor da raça em Crufts com mais de 100 Shibas faz sete anos, foi um dia inesquecível e de emoções muito fortes; aquele dia ao meu lado vendo o julgamento estava o juiz japonês Izumi Awashima e quando Momo entrou na pista com meu handler Javier Gonzales Mendikote, ele se virou e me disse: “essa é a melhor da raça absoluta; é verdadeiramente incrível e com nível muito superior ao resto” – quase me vieram as lágrimas ao lhe dizer: “Muito obrigado, essa é minha filha”.
E assim foi… minha querida ganhou Melhor da Raça Absoluta, com uma súmula que dão arrepios, quase que poderia dizer de memória, mas não quero aborrecer…
Também tenho uma recordação muito emotiva de quando ganhei o Best in Show do JKC na especializada de raças japonesas com Taiko, em maio passado na Alemanha. Naquele momento pensei: agora posso morrer tranquila (risadas).
Já se intui por teus comentários anteriores, mas conte-nos: houve um cão especial em tua vida, um que destacarias especialmente, que deixou uma marca indelével?
em dúvida Momo é a Shiba mais especial que eu jamais conheci. Custa crer que sua beleza interior logre superar sua beleza exterior, e graças a ela a qualidade dos meus Shibas melhorou notavelmente. Ela marcou um antes e um depois na minha criação. Moma é Campeã do Mundo, dois de seus filhos são Campeões do Mundo e estou segura de que seus netos, seus bisnetos também chegarão a ser. É o início de uma grande estirpe e o primeiro Shiba de Tomimoto que chegou a Shun’You Kensha.
Nos Akitas, Asayake (“as cores do amanhecer”, como seu proprio nome indica, foi o amanhecer do meu reconhecimento atual. Foi um dos Akitas mais famosos da história da raça, ganhou vezes seguidas o campeonato do mundo e da Europa e é campeã em mais de 20 países. Sua movimentação é simplesmente espetacular, é uma cadela que sempre amou as pistas, seu caráter é de uma diva nascida para ganhar. O JKC mel solicitou um vídeo dela em movimento para ser mostrado como exemplo a seguir, e está incluído no DVD sobre a raça que se utiliza o JKC em conferência na atualidade.
Por último, qual é teu sonho a cumprir com teus cães?
Cumpri todos! Seria egoista pedir mais, ainda que nunca deixe de sonhar…
Há algo que queiras acrescentar ao que comentaste?
Gostaria de agradecer por esta entrevista, desfrutei todas as perguntas, ainda que algumas me tenham produzido certa nostalgia, porém não quero terminar esta entrevista sem dar graças a todos que todos os dias admiram o trabalho do Shun’You Kensha e me ajudam no meu trabalho, alem de me darem forças e carinho para ter o privilégio de entrar em suas vidas. Essa é, sem dúvida, a maior das recompensas que pode obter um criador.